Muita conversa e pouca gestão

Não basta afirmar que vai vacinar o País. Ele precisa convencer que acredita na importância da imunização

Por: Redação  -  12/06/21  -  09:22
 Ao se ocupar tanto com as redes sociais e se mover conforme as reações de seus seguidores militantes, Bolsonaro apaga eventual brilho que seu governo possa estar realizando
Ao se ocupar tanto com as redes sociais e se mover conforme as reações de seus seguidores militantes, Bolsonaro apaga eventual brilho que seu governo possa estar realizando   Foto: Alan Santos/PR

O diagnóstico que se tem da estratégia do presidente Jair Bolsonaro de propagar polêmicas e teorias da conspiração, ainda que possa acreditar em muitas delas – de doença da guerra química à fraude eleitoral – é o de acenar para seu público mais fiel. Assim, ele garante um eleitorado cativo, à prova dos ataques de campanha eleitoral, mantendo uma vaga no segundo turno das eleições.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Diz-se também que o hábito dele de se pronunciar desde a manhã, de forma provocativa, é uma estratégica bem pensada para criar cortinas de fumaça ou ocupar a imprensa de assuntos que não as várias crises que se abatem sobre sua gestão, desde a sanitária à do desemprego e do rombo nas contas públicas. Melhor se fossem apenas propostas positivas e ideias de governo.


Ao se ocupar tanto com as redes sociais e se mover conforme as reações de seus seguidores militantes, que em hipótese alguma se pode dizer que representam uma média do que pensam os brasileiros, Bolsonaro apaga eventual brilho que seu governo possa estar realizando. Por exemplo, o presidente tem viajado para inaugurar obras que estavam paradas, como casas próprias, pontes e trechos da transposição do Rio São Francisco, mas esses investimentos se perdem no noticiário porque o presidente fala sobre voto impresso, manipulação dos dados da covid-19 pelos governadores ou que estes e outros tantos prefeitos fecham suas cidades em uma espécie de conluio para prejudicar o Governo Federal.


Na quinta-feira, em um evento do Ministério do Turismo, ao invés de se focar em dar um sopro de estímulo a esse combalido setor, o presidente se referiu a um parecer para desobrigar o uso da máscara por quem já se infectou ou se vacinou. O que impressiona é que pouco antes ele, um ex-contaminado pelo novo coronavírus, estava de máscara ao lado dos ministros. Nada mais humilhante para o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que não se sabe com que veemência poderá recomendar a população sobre os cuidados contra a doença. Ontem, Bolsonaro recuou e disse que se trata de estudo e quem vai decidir sobre o uso serão prefeitos e governadores. Porém, a confusão gerou embates nas redes sociais e nada se falou de turismo.


O presidente é hoje seu próprio opositor, pois não divulga suas realizações com a mesma força que fala sobre conspirações. Até os mais imprudentes sabem que a máscara tem sua importância contra a doença, assim como qualquer um tem parente ou amigo morto pela covid-19.


Agora que a economia dá sinais de que vai avançar, o presidente precisa como nunca dar injeção de ânimo nos consumidores e nos empresários. Não basta afirmar que vai vacinar a população. Ele precisa convencer que acredita na importância da imunização, condição para a volta da normalidade. Sem trabalhar duro e com o foco em discursos improdutivos, não haverá retomada, mas sim doença e mais desemprego.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter