Duvidar é viver. Sou um ‘duvidoso’ contumaz

Gosto de caminhar pelo meu bairro. Sair de casa para ter a certeza de que a paisagem à janela está lá

Vania e Gerson estão casados há 44 anos, oito meses e 22 dias... Gerson passa na padaria da esquina para comprar o pão francês crocante, a casquinha meio queimada saltando da massa, do tamanho de um palmo médio, que Vania adora saborear com manteiga

Não sei se vocês, leitores, já passaram por angústia similar, de estarem com o relógio nos calcanhares para um compromisso e constatarem, entre surpresos e consternados, que nenhuma roupa lhes serve mais

Afrânio arrasta-se pela casa como se não a reconhecesse

No desejo de voar, a cama se torna peso

Ele já está ali, virando a esquina

Ao redor de pai e filho, hordas de gente com sacolas coloridas, grandes ou pequenas, leves ou pesadas

Prefiro os recônditos, os nichos onde o abandono é apenas aparente, mero disfarce para pulsar como se deseja, livre de amarras ou julgamentos que nem de longe causam tormento, mas um bocejante fastio

Vai-se além da conta também pela carência: na timidez do abraço na hora do adeus, ao se imaginar apenas até logo. Ou se faltaram palavras e não se entendeu o intrincado mosaico daquele coração