'Não entramos para ficar em meio de tabela', diz Luan Peres sobre o Santos no Brasileirão

Em entrevista exclusiva para ATribuna.com.br, o zagueiro diz que o trabalho é para chegar nas finais das copas

Por: Bruno Lima  -  10/06/21  -  07:36
Atualizado em 10/06/21 - 08:04
   Luan Peres tem gostado da filosofia de Fernando Diniz e aponta alguns motivos para a saída de Holan
Luan Peres tem gostado da filosofia de Fernando Diniz e aponta alguns motivos para a saída de Holan   Foto: Ivan Storti/Santos FC

Homem de referência do sistema defensivo do Santos, o zagueiro Luan Peres está próximo de completar 100 jogos com a camisa alvinegra. Em entrevista exclusiva para ATribuna.com.br, o camisa 14 do Peixe que já entrou em campo 85 vezes pelo Peixe, falou sobre o início de trabalho do técnico Fernando Diniz, as pretensões da equipe nas competições que restam na temporada, um possível retorno à Europa, o sonho de defender a Seleção Brasileira e a realização da Copa América no Brasil, a partir do próximo domingo (13).


O Santos da temporada passada terminou com o vice da Libertadores e fez jogos marcantes contra Grêmio e Boca Juniors. Mas, nesse ano, as coisas não se encaixaram. É possível imaginar essa equipe brigando por títulos ou as perdas que o elenco sofreu dificultam isso?


Está sendo um ano diferente, porque em 2020 chegamos na final da Libertadores e nessa edição fomos eliminados na fase de grupos. Isso nos desagradou bastante. Agora estão chegando alguns reforços, pois até então só tínhamos perdido jogadores. E nomes importantes, como Pituca, Veríssimo e Soteldo. No ano passado, ninguém imaginava que chegaríamos à final da Libertadores, mas houve um grande trabalho do Cuca. Com o Fernando Diniz, que é um profissional de tirar o chapéu em termos táticos, temos feito trabalhos muito bons. Ele é um incentivador, então temos tudo para nos recuperarmos. Conseguimos três vitórias consecutivas e, se Deus quiser, vamos embalar para a quarta, quinta e fazer um bom campeonato. Como o Diniz sempre frisa, não estamos entrando para ficar em meio de tabela ou para não cair. Estamos entrando no Brasileirão para brigar pelo título ou o G4. Esse é o nosso foco. A camisa do Santos é muito pesada, como vimos no ano passado, e por que não chegar lá em cima, já que é isso que a gente quer? O trabalho está sendo bem feito. Claro que não dá para o treinador, em um mês, fazer milagre. O Diniz vem colocando o estilo dele, ainda estamos assimilando tudo e daqui um tempo estaremos melhor do que estamos hoje.


Apesar das três vitórias, o torcedor anda desconfiado com o elenco do Santos, em razão da campanha no Paulistão e da eliminação na Libertadores. Ele pode ficar despreocupado quanto ao risco de queda no Brasileirão ou, em razão de tudo que envolve o clube financeiramente, a realidade será dura?


Temos noção de tudo o que está acontecendo aqui e do que o clube passou nos últimos anos, mas conseguimos superar as expectativas nos outros anos. A gente quer ser campeão e chegar na Libertadores, além de brigar pelos títulos da Copa do Brasil e da Sul-Americana. Sabemos que é muito difícil, não temos um elenco grande para as três competições. No Brasileirão, há equipes com muitas peças, como Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG, mas entramos para ganhar. Sabemos que na Vila Belmiro somos muito fortes, pontuamos bastante, e fora, na Libertadores passada, por exemplo, fizemos uma campanha excelente. Sabemos jogar bem dentro e fora de casa. Portanto, temos tudo para fazer um grande campeonato. Não sei como vamos terminar, mas queremos coisas grandes, almejamos isso, e, quem sabe, chegar nas finais da Copa do Brasil e da Sul-Americana. Sem deixar, em momento nenhum, de focar no Brasileirão, que é uma competição perigosa. A torcida tem que ter noção de nossas dificuldades, mas mantemos na cabeça a busca por grandes objetivos.


Como tem sido o início de trabalho com o Fernando Diniz? O que tem chamado a atenção na filosofia do novo treinador?


Ele é uma pessoa gente boa. Fora de campo, é um cara que gosta de conversar, que dá risada. Falamos com ele sobre diversos assuntos, não só de futebol. É um cara muito do bem. Mas muito intenso. Quando entra em campo, ele se transforma, vive totalmente aquilo e quer sempre o melhor da gente. É um técnico muito sincero. Já na primeira conversa, disse que tudo que tivesse para nos falar iria dizer na nossa cara. Claro que, no jogo, a gente acaba se exaltando um pouco, ele também se exalta, mas sabemos lidar bem. É um grande treinador. Implementa várias regras de jogo, cobra muito da nossa marcação e da nossa intensidade para marcar. Ele até fala que o pessoal de fora comenta sobre gostar de sair jogando e que impõe essa filosofia, mas o que vale mais para ele são a vontade e a dedicação para a marcação.


Para você, como zagueiro, essa filosofia de sair jogando é positiva?


Eu gosto de sair jogando. Sei que às vezes é arriscado, mas ele mesmo fala que quando estivermos ameaçados, é para afastar, não é algo proibido. Ele tenta fazer o mais fácil possível para que a gente consiga sair jogando, sempre construindo opções. Porém, quando não é viável, temos a liberdade de tomar a decisão de afastar. E tratamos de estar sempre bem posicionados para que, caso a gente venha a perder a bola, tenham três outros jogadores para dificultar a criação dos adversários. É um conceito muito legal. Estamos adorando essa ideia. Saindo bem para o jogo, temos mais chances de quebrar as linhas e chegar ao gol.


Hoje você é a referência na zaga do Santos e tem alternado atuações com o Kaiky e o Luiz Felipe. Qual as principais diferenças entre eles?


O Kaiky é um jogador talentoso, que vai para a Europa logo menos e lá despontará demais. Tem 17 anos e uma carreira brilhante pela frente. Eu, com 17 anos, nem sonhava em vestir a camisa do Santos ou em jogar uma Série A e Libertadores por um time grande. O meu foco era subir para o profissional ou me firmar no sub-20. O Kaiky está muito na frente e fico feliz por ele. O Luiz Felipe é um cara mais experiente, grande jogador, está no Santos há anos e isso não é qualquer um que consegue. Mesmo depois de um tempo sem atuar, ele entrou, correspondeu e tem me ajudado muito. Tem como característica falar bastante durante os jogos, isso me deixa ligado o tempo todo. O Kaiky vai adquirir, com o tempo, a experiência do Luiz, isso é normal.


E tem preferência por atuar com algum deles?


Para mim, é indiferente. O Luiz me agita, me cobra mais. Eu naturalmente fico mais ligado por ele ser assim. O Kaiky é um zagueiro acima da média, tem um futuro brilhante e uma saída de bola excelente. Mas, claro, ainda é garoto e às vezes comete um erro ou outro. E isso é normal. Como falei, com 17 anos eu não estava nem no sub-20, então vai adquirir a maturidade e terá um futuro espetacular.


   Luan Peres hoje é a referência da zaga santista e tem alternado partidas ao lado de Luiz Felipe e Kaiky
Luan Peres hoje é a referência da zaga santista e tem alternado partidas ao lado de Luiz Felipe e Kaiky   Foto: Ivan Storti/Santos

Antes do Santos efetuar a sua aquisição do Club Brugge, da Bélgica, você deixava claro que não queria voltar para lá. Hoje, você tem um vínculo de quatro anos aqui. Pensa em um dia voltar para o futebol europeu ou isso não passa mais pela sua cabeça?


A Bélgica tem uma liga que não me agradou muito e é um mercado para o qual não tenho vontade de voltar. Sou muito grato ao Santos por estar aqui. Fiquei muito feliz pelo reconhecimento do meu trabalho e a atenção que tiveram comigo. Por isso estou totalmente focado. Mas há grandes centros na Europa que, se um dia tiver a oportunidade, também pensando na Seleção, poderia ir. Se houver a oferta de um time muito grande, é normal o jogador balançar, todo mundo tem sonhos e existe o lado financeiro. Atualmente, não penso nisso. Estou muito feliz aqui e não existe nada para que possa sair. Não vou descartar um dia voltar à Europa. Não é isso. Só que tenho a minha cabeça focada no Santos, em fazer um grande trabalho para ser cada vez mais visto lá fora e, quem sabe daqui uns anos, um gigante europeu me contrata. Esse é o sonho de qualquer um. A gente nunca pode perder esse sonho.


O Santos é o clube em que você mais atuou? O que isso representa?


Estou com 85 jogos e ansioso para completar o 100º, que é uma marca muito legal. Quero ganhar logo uma placa comemorativa com esse feito.


E quando sai o primeiro gol com a camisa do Santos?


Estou querendo muito (risos). Tenho dado algumas assistências, a última foi para o Kaio Jorge, no primeiro jogo contra o Cianorte, que acabei chutando e, no rebote, ele marcou. Mas estou ansioso. Vou ver se o Marinho deixa eu bater um pênalti quando estivermos ganhando um jogo de 3 a 0 - o último gol marcado por Luan Peres na carreira foi em 2016 quando ainda defendia a Portuguesa.


Na final da Libertadores, quando o Palmeiras chega ao gol, uma das primeiras imagens dos jogadores do Santos que aparece é a sua, com as mãos do rosto e claramente incrédulo. O que passou na sua cabeça naquele momento?


Quando teve aquela confusão no banco de reservas e o Cuca foi expulso, sabíamos que o jogo estava para terminar. Não lembro exatamente quantos minutos faltavam, porque eu nunca mais quis assisti-lo. Ainda dói aquela final e procuro não ficar lembrando disso. Mas sei que estava nos acréscimos e quando tomamos o gol sabíamos que seria difícil conquistar o empate. Naquele momento, eu coloquei as mãos na cabeça e pensei: 'caramba, o sonho acabou! Tudo que a gente fez acabou'. Foi um balde de água fria, até pelo jogo que estávamos fazendo. Não estávamos abaixo do Palmeiras. Estávamos esperando a prorrogação.


Foi a maior dor que você já sentiu como jogador?


Com certeza. Sem dúvida nenhuma.


   Luan Peres nunca assistiu a derrota do Santos para o Palmeiras na final da Libertadores
Luan Peres nunca assistiu a derrota do Santos para o Palmeiras na final da Libertadores   Foto: Ivan Storti/Santos

A decisão do Ariel Holan deixar o Santos ainda no início do trabalho te surpreendeu?


Sim. Lembro que estávamos treinando para encarar o Boca Juniors, foi uma atividade mais curta por ser antes da viagem, e ele comandou o treino normalmente. Quando acabou, fui tomar água e o pessoal que estava na fisioterapia comentou comigo que o Holan tinha caído. Não sabíamos se tinha sido demitido ou pedido para sair. Até achei que era brincadeira, porque ele ainda estava no campo. Depois, o pessoal me explicou que foi uma decisão tomada antes do treino. Mas pegou, não só a mim, de surpresa. Foi uma decisão dele, que é um grande profissional e vida que segue. Ele tinha umas ideias de jogo que não deram muito certo, até por conta das partidas a cada dois dias e o elenco curto. Ele não soube fazer o rodízio adequado e isso complicou um pouco. Mas é uma pessoa do bem, com caráter fantástico e só tenho a agradecê-lo pelas conversas e desejar boa sorte.


Depois de ótimas temporadas no Santos, vimos o Lucas Veríssimo, em dois meses e meio de Benfica, ser chamado para a Seleção Brasileira. É desanimador pensar que uma possível convocação jogando no futebol brasileiro é mais difícil?


É um ponto delicado. Não digo que exista uma preferência por quem atua lá fora, mas visando uma Copa do Mundo, porque muitas seleções favoritas, junto com o Brasil, são europeias, e o Tite tem chamado esses jogadores, porque estão mais acostumados a encarar os grandes atletas na Europa, acho que pesa na hora da definição. Mas não penso que seja só isso. O jogador que estiver muito bem aqui, como é o caso do Rodrigo Caio, no Flamengo, é convocado e terá chance. No entanto, é fato que o Veríssimo não fez nada de diferente em Portugal em relação ao que já fazia aqui. Ele já se encontrava em outro nível no Santos, mas conseguiu manter essa regularidade atuando na Europa, mesmo sendo no Campeonato Português, que é uma liga que não tem um nível tão elevado como de outros países. Mas é um ponto delicado esse de Seleção. Não cabe a mim falar. O Tite que decide. Vou continuar trabalhando, existem muito jogadores com potencial para estar lá, porém ele prefere alguns que estão na Europa. É respeitar, entender a metodologia dele e, quem sabe, um dia, poder sonhar com alguma coisa.


Hoje você já sonha ou não cria qualquer expectativa?


Claro que é um sonho para todos os jogadores vestir a camisa da Seleção Brasileira. Mas, na hora da convocação, ainda não fico achando que vou ser chamado. Não tenho isso ainda. Há outros nomes na frente. Por mais que eu venha bem no Santos há um ano, sei que têm jogadores há dois ou três anos mantendo um nível muito alto e, teoricamente, em vantagem. Sendo muito sincero, penso que não seria o momento para eu ser convocado. Torço para estar, mas não vejo a convocação esperando para ouvir o nome.


Na última terça-feira (8), vimos o posicionamento dos jogadores da Seleção Brasileira contra a realização da Copa América. Qual é a sua opinião sobre esse episódio?


É um assunto delicado, porque o Brasil vive um momento difícil de pandemia. Têm outros campeonatos rolando, como Eliminatórias, Brasileirão, Libertadores, enfim... Mas entendo a indignação dos próprios jogadores da Seleção que se posicionaram contra a realização da Copa América, explicando que não deixariam de jogá-la. Achei correta a atitude deles e teria a mesma postura se estivesse lá. Não deixaria de jogar, mas não seria a favor por outros países não terem aceitado sediar a competição. Quem mais sofre é a população brasileira.


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