O crescimento da economia do primeiro trimestre, de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) sobre o quarto trimestre de 2020, empolgou por se diferenciar do histórico recente de desempenho ruim devido à pandemia e ao desemprego de quase 15 milhões de trabalhadores. O efeito mais importante é de impulsão nas atividades, ficando desafios para adiante, como melhorar a renda da população – via geração de postos de trabalho – e o governo cumprir promessas de campanhas amplamente conhecidas. São reformas para reduzir o custo Brasil, como carga tributária elevada e com efeito em cascata dos impostos, mão de obra sem capacitação e onerada na folha, corrupção, burocracia, insegurança jurídica e sistema de transportes defasado. Esses problemas são antigos e têm deixado o País para trás na competição mundial.
Admite-se que não são temas de fácil ou rápida resolução, mas é preciso enfrentá-los, o que envolve desagradar as corporações e contrariar o eleitorado – uma indisposição constante do presidente Jair Bolsonaro, que apesar do desmentido, sinaliza pouca empolgação para tocar a reforma administrativa, que vai interferir nas carreiras do funcionalismo federal.
Segundo a pesquisa do PIB, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a retomada não está disseminada nem garantida, com as famílias excluídas dos primeiros resultados. Basta observar que os resultados mais positivos se concentram nas exportações, notadamente do agronegócio e da mineração, de forma moderada na indústria e praticamente estagnada nos serviços, o mais atingido pela covid e que mais emprega.
Mas como não há uma recuperação forte dos serviços (alta de 0,4% no primeiro trimestre sobre o quarto de 2020) e consequentemente não se cria emprego, o consumo das famílias caiu 0,1% nesse período. Esse resultado é da maior importância e ficou praticamente de lado com a festa ao redor da notícia da expansão do PIB. Isso porque o consumo das famílias lidera historicamente o crescimento do País. Nas principais economias, poupança, crédito e investimentos de infraestrutura, como é o caso da China, têm peso bem mais importante.
Aliás, essa leitura do consumo das famílias foi até ignorada pelos mercados financeiros. Na quarta-feira, dia da divulgação do PIB de 1,2%, as ações de empresas do varejo foram as que mais subiram, uma aposta de que os consumidores físicos vão voltar às compras com muita força nos próximos meses.
Já a expansão da indústria foi de 0,7%, mas há uma ressalva. Parte dessa alta é artificial devido à mudança do Repetro, regime tributário do petróleo que contabilizou como importação as plataformas de petróleo, movimentação econômica que de fato não houve agora.
A grande questão é se essa recuperação econômica vai ser sustentável e com que força se dará, considerando que persistem as falhas, principalmente na indústria, impostas pelo já conhecido custo Brasil.