
Políticas do Governo Federal podem ajudar a atividade industrial (FreePik)
Embora o setor de serviços tenha se consolidado como o principal gerador de empregos no Brasil, tanto em nível nacional quanto em muitas regiões - incluindo a Baixada Santista -, a indústria brasileira tem mostrado desempenho positivo na abertura de novas vagas.
Em 2024, o setor industrial criou 343.924 novos postos de trabalho, um aumento de 82% em relação a 2023. Já em janeiro de 2025, a indústria liderou a criação de vagas de emprego, com um saldo positivo de 70.428 novos postos de trabalho com carteira assinada, representando 51,3% do saldo total de 137.303 empregos formais criados no mês.
O economista-chefe da Federação Nacional das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, revela que a indústria paga os melhores salários, tanto na média quanto em comparação com os demais setores: em 2023, foi R$ 3.555,17, contra R$ 3.383,36 da economia como um todo e R$ 3.379,17 do de serviços.
O doutor em Economia e professor de economia Regional e Urbana da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo de Sá Porto, observa que a indústria representava 17% do emprego total no País em 2023, atrás dos serviços (56%), e à frente de comércio (19%), construção civil (5%) e agropecuária (3%). “A participação da indústria na geração de empregos varia conforme a região”.
O setor industrial, aponta o economista, representa somente 0,7% da indústria paulista na Baixada Santista. Além disso, lembra Porto, no período 2012-2021 houve perda de 4.242 empregos industriais, principalmente devido ao encolhimento do setor siderúrgico na região.
“De outro lado, o setor de serviços é o principal na Baixada Santista, sendo responsável por 63% dos empregos formais na região, acima da média estadual de 52%, destacando-se os serviços portuários e logísticos, serviços de hotéis e restaurantes, serviços de saúde e serviços educacionais”, completa.
Estável
O diretor titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo-Cubatão (Ciesp), Américo Ferreira Neto, afirma que a geração de emprego no Polo Industrial de Cubatão encontra-se estável, com uma taxa de rotatividade de aproximadamente 3%.
“As oportunidades estão concentradas para atendimento de grandes reparos de manutenção, bem como em investimentos. Na Baixada Santista temos dois segmentos principais na geração de empregos, o setor industrial e o setor portuário. As condições se adequam à realidade da indústria, que segue passando por transformações muito ligadas à inovação e à tecnologia aplicada nas linhas de produção”, explica.

Valorização da formação técnica e profissionalizante cresceu (FreePik)
Fiesp alerta para desaceleração
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, afirma que o cenário esperado para este ano é de desaceleração da atividade industrial.
“O motivo é a intensificação do aperto monetário, o que tende a contribuir para a piora das condições de acesso ao crédito, sobretudo em um ambiente marcado por condições financeiras já restritivas. O elevado patamar das taxas de juros internacionais e domésticas e a apreciação do dólar são os principais elementos por trás da piora das condições financeiras das empresas”, argumenta.
Rocha também observa que é aguardado um menor impulso fiscal ao longo de 2025 por parte do Governo Federal. O ano também tende a ser marcado, na avaliação do economista, por um ambiente externo mais adverso, principalmente devido às incertezas em relação à economia dos Estados Unidos e aos possíveis efeitos macroeconômicos das políticas anunciadas pelo presidente Donald Trump.
“Um dos principais pontos de preocupação é elevação de tarifas, que pode gerar aumento da inflação e dos juros no cenário internacional, além de fortalecer o dólar no mercado global — movimento que tende a pressionar especialmente as moedas de países emergentes. Portanto, este cenário externo mais desafiador pode contribuir para a desaceleração do crescimento da indústria”, explica.
Medidas governamentais
Contudo, o economista-chefe da Fiesp lembra que medidas do governo para estimular a demanda, como a liberação de recursos da ordem de R$ 12 bilhões do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para trabalhadores demitidos que realizaram o saque-aniversário, e a criação do crédito consignado privado, constituem elementos para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025.
“Além disso, as políticas implementadas pelo governo federal voltadas à reindustrialização, como o Plano Mais Produção, a Nova Indústria Brasil e a Depreciação Acelerada também podem atuar da mesma forma para a atividade industrial”, completa.
Perfil de contratados
Flexibilidade, capacidade de aprendizado contínuo, multidisciplinariedade e competências socioemocionais têm caracterizado o novo perfil de contratação por parte do setor industrial, lista o gerente de relações com o mercado do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-SP), Marcello Luiz de Souza Júnior.
“Os dados de contratação revelam a presença crescente de trabalhadores com maior grau de instrução. Para se ter uma dimensão, entre 2014 e 2023, o número de trabalhadores na indústria paulista com ensino médio completo ou superior aumentou 9,41%”, afirma Júnior.
Economista e professor universitário da Strong/FGV, Luciano Simões aponta que houve um aumento na demanda por engenheiros - especialmente nas áreas de automação, eletrônica, mecatrônica e computação -, técnicos especializados em novas tecnologias, cientistas de dados e profissionais de Tecnologia da Informação (TI) com foco em aplicações industriais.
A necessidade de profissionais com habilidades técnicas específicas para operar e manter equipamentos e sistemas complexos tem aumentado a valorização da formação técnica e profissionalizante. A automação de tarefas repetitivas e manuais tem levado a uma menor necessidade de mão de obra não qualificada em certos setores da indústria.
“Além das habilidades técnicas, as empresas industriais têm dado mais importância a habilidades como comunicação, liderança, capacidade de aprendizado e resolução de problemas”, acrescenta Simões.
Aumento da idade média
Outra mudança relevante, de acordo com o gerente do Senai-SP, é reflexo da dinâmica populacional de inversão da pirâmide etária, o que se traduz em um aumento da idade média do trabalhador da indústria.
“Nos últimos anos, o número de profissionais acima de 30 anos evoluiu 5,15% no setor. Essa mudança sociodemográfica, aliada à tendência de encurtamento do ciclo de tecnologias aplicadas aos processos produtivos e aos movimentos de aumento da escolaridade apontam, cada vez mais, para a relevância de cursos de formação continuada ao longo da carreira, aperfeiçoando e especializando trabalhadores em novas técnicas e tecnologias que surgem a todo o momento”, explica.
Características e habilidades mais procuradas
Com a rápida evolução tecnológica (Indústria 4.0, internet das coisas, inteligência artificial, automação avançada), há uma grande demanda por profissionais com conhecimentos em áreas como programação, robótica, análise de dados, manutenção industrial 4.0 e tecnologias digitais.
Capacidade de adaptação e aprendizado contínuo
A velocidade das mudanças exige profissionais que sejam capazes de se adaptar a novas tecnologias, processos e demandas do mercado, buscando constantemente atualização e aprendizado.
Habilidades de resolução de problemas
Em um ambiente industrial complexo, a capacidade de identificar e solucionar problemas de forma eficiente é fundamental.
Habilidades de comunicação e trabalho em equipe
A colaboração entre diferentes áreas e equipes é essencial na indústria moderna, exigindo profissionais que se comuniquem de forma clara e eficaz e que saibam trabalhar em conjunto para alcançar objetivos comuns.
Conhecimento em sustentabilidade e ESG
A crescente preocupação com questões ambientais e sociais faz com que as indústrias busquem profissionais que possam contribuir para práticas mais sustentáveis e alinhadas aos princípios ESG.